Um Arquétipo de Problema
Imagine a seguinte situação: você está bem acima do peso e decide iniciar uma dieta. Para isso, foi a um nutricionista, aprendeu várias dicas sobre alimentação saudável e elaborou uma dieta infalível para atingir a tão desejada redução de peso. Mas no primeiro dia da dieta, você é convidado para um super almoço em comemoração ao final de um importante projeto em sua empresa. Nesse almoço, você pensa “ah, só hoje não vai fazer mal!”. E imbuído desse pensamento, você literalmente “mete o pé-na-jaca” e come e bebe de tudo.
No dia seguinte, após muito “sal de fruta”, você “realmente está decido” a retomar sua missão e, até a cumpre no café da manhã e no almoço. Contudo, ao final do expediente, você recebe uma ligação convidando-o para um divertido happy-hour com aqueles “brothers” que há muito tempo não os via. E o mesmo arquétipo de comportamento ocorre nos dias seguintes, até que você esquece totalmente de sua missão e jogue a toalha definitivamente.
Conhecimento x Atitude
Observe que nesse cenário não lhe faltavam conhecimentos sobre dietas ou sobre as qualidades dos alimentos, mas sim, houve um típico caso de autossabotagem. Essa autossabotagem ocorreu pois você não criou uma forma de lidar com as perdas das “coisas” que você teria que abrir mão para emagrecer. E esse cenário de perdas é guiado por seu modelo mental, que é composto por valores e crenças sobre o que é ou não é importante para você. E esse sentimento de perda lhe fez desenvolver pensamentos que culminam com uma falta de atitude para iniciar ou manter uma mudança.
Uma boa forma de você entender isso é lembrando do famoso modelo que indica que competência é formada pelo acrônimo CHA (Conhecimento, Habilidades e Atitudes). Onde conhecimento obviamente é tudo aquilo que você aprende (não importa o meio), habilidade é sua proficiência em fazer algo bem feito (é necessário ressaltar que a habilidade vem por meio da execução ou repetição contínua daquele conhecimento) e a atitude consiste em você ter os comportamentos de “iniciativa e acabativa” para por o seu conhecimento em prática e desenvolver de forma deliberada, uma sustentável e perene habilidade.
Portanto veja que no corriqueiro cenário acima, você teve o conhecimento, mas não teve a atitude necessária para iniciar e manter a disciplina de uma dieta.
No Mundo Corporativo
Efeito semelhante acontece em outros contextos, sejam pessoais ou profissionais. No campo profissional, é comum ver nas empresas diversas iniciativas de consultoria ou mentoria para que seus colaboradores desenvolvam mais conhecimentos sobre novos processos ou novas e melhoras técnicas de trabalho. Contudo, em igual proporção, é comum ver que muitas dessas iniciativas são frustradas pois os seus colaboradores não têm atitude suficiente para manter tais melhorias. Não ter essas atitudes não significa maldade ou má fé por parte dos colaboradores. Mas essa lacuna de atitude existe pois os colaboradores por muitas vezes não acreditam ou não enxergam importância naquela iniciativa.
Na prática, essa “não-ação” de uma determinada pessoa pode ser em função de como o seu modelo mental lhe faz perceber aquele assunto. Essa questão de percepção é o divisor de águas entre ter um pensamento que lhe faz agir ou ter pensamentos que lhe deixa parado.
Propósito do Coaching
A percepção pode estar sujeita a um perigoso ciclo de distorções que o indivíduo tem. Segundo o autor Timothy Gallwey, esse ciclo de distorções atua diretamente no senso de responsabilidade, nos resultados obtidos e principalmente, na autoimagem que indivíduo tem. Esse ciclo de distorções é o que causa pensamentos como “não posso!”, “não consigo!”, “não vai dar certo!”, “nunca ninguém me apoia!”, etc. Esses pensamentos, de uma maneira imperceptível, são o principal responsável pela inércia de atitudes de uma pessoa face aos seus desafios e desejos.
Ajudar um indivíduo a explorar os seus modelos mentais e fazer com que por si só tome consciência de suas percepções e suas distorções é um dos objetivos do processo de Coaching. Em linhas gerais, Coaching é um processo focado em desenvolvimento de potencial e performance humana para se atingir determinado resultado. Esse processo de desenvolvimento acontece tipicamente entre dois papéis: o Coachee e o Coach. O Coachee é o indivíduo responsável por atingir uma determinada meta e, para trilhar esse caminho, recebe a ajuda do Coach.
Papéis e Como Funciona o Processo de Coaching
O Coach é o profissional que, por meio de um ciclo de sessões individuais, fornece o processo formal de Coaching ao Coachee. Essas sessões, tem como principal objetivo fazer com o que o Coachee explore o seu próprio modelo mental, de forma que o mesmo consiga quebrar o ciclo de distorções presente em seu modelo mental, e com isso, gerar ações para alcançar os resultados planejados.
O Coach faz com que o Coachee se visualize como um sistema composto por diferentes partes interligadas para um propósito. E como já vimos anteriormente, esse sistema também pode ser chamado de modelo mental, que é composto por partes que representam seus valores, suas crenças, seus propósitos, suas percepções e principalmente, os seus comportamentos.
Por meio dessa visão sistêmica, o Coach promove uma metaposição do Coachee, ou seja, o Coach ajuda o Coachee a adotar diferentes pontos de vista, para que ele se visualize por outras perspectivas. Essa visão sistêmica multidimensional torna possível o uso de diferentes técnicas, que usadas sozinhas ou combinadas, proporcionam uma mudança em alguma parte do modelo mental do indivíduo. O objetivo dessa mudança é causar uma cadeia de efeitos positivos em seu sistema pessoal, como por exemplo, ajudar o Coachee a mudar o ciclo de distorções que o impede.
Coaching Num Contexto Ágil
Um bom processo de Coaching é baseado numa Meta, que desperta Comportamentos, que geram determinados Resultados e esses resultados são passíveis de um processo de Melhoria Contínua.
Para apoiar essa melhoria contínua para um indivíduo, o processo de Coaching funciona como um espelho ao Coachee. Com esse espelho, o Coachee pode visualizar quais resultados ele está obtendo e principalmente aprender de forma empírica como melhorar seu comportamento para alcançar resultados ainda melhores.
Para atuar como uma base para esse ciclo de melhoria contínua de um Coachee, uma boa sessão de Coaching normalmente contém a seguinte estrutura:
- Quais os aprendizados desde a última sessão?
- Quais os avanços que o Coachee teve desde a última sessão?
- O que podemos desenvolver (ou melhorar) a partir dessa sessão atual?
- Quais os aprendizados dessa sessão atual?
- E quais tarefas o Coachee identificou e se responsabilizou em desenvolver até a próxima sessão?
Essa característica faz com o que o processo de Coaching tenha uma sinergia muito grande com a filosofia Ágil. Essa sinergia acontece pois todas os métodos ágeis são baseadas na ideia de melhorar continuamente uma forma de ação, para melhor atingir um determinado objetivo.
Nesses ambientes que estão adotando a filosofia Ágil, é comum haver um Coach como um profissional externo à equipe para auxiliar o líder ou a própria equipe para melhorar seu comportamento no atingimento das suas metas.
Também é importante salientar que o processo de Coaching pode ser usado de maneira informal como uma competência de um líder num projeto. O propósito dessa competência é ajudar o líder a melhorar o seu comportamento no desafio de liderar uma equipe ágil de desenvolvimento. É possível identificar que um dos principais desafios na adoção de métodos ágeis é o desenvolvimento de novas competências necessárias para atuação em novos papéis e como forma de representar uma nova cultura organizacional fruto do paradigma ágil. Dessa forma, o desenvolvimento dessas novas competências passa pela mesma questão de ter um conjunto de conhecimentos, que serão a base para ter atitudes diferentes e que a longo prazo, vão lhe proporcionar alguma habilidade na execução daquele conhecimento.
Conclusão
De maneira geral, alcançar algum resultado gera a necessidade de ter um desempenho melhor e, para ter um desempenho melhor, é necessário desenvolver um aprendizado sobre uma nova forma de pensar, de sentir e principalmente de agir. Essas novas formas, devidamente inter-relacionadas e alicerçadas em valores e propósitos, ajudarão um individuo a chegar com sucesso numa determinada meta. Portanto, quando você estiver com a necessidade de alcançar objetivos, experimente contar com a ajuda de um Coach, pois com certeza sua caminhada em direção a um resultado será muito mais efetiva. Veja que assim como o exemplo de dieta do início do texto, o ponto crítico em adoções ágeis também continua sendo a questão da atitude. Cabe então ao processo de Coaching ajudar o indivíduo a explorar e tratar os seus próprios obstáculos para ter verdadeiras atitudes ágeis.
Irei seguir e voltar a visitar varias vezes, o site esta bastante engraçado
Caro Manoel Pimentel,
Gostei muito do seu texto. Acredito e pratico as técnicas de Coaching.
Gostaria de compartilhar o artigo que escrevi sobre Coaching de Equipes Ágeis.
http://issuu.com/ioneswalter/docs/artigo_-_coaching_de_equipes_ageis_/1
Atenciosamente,
Iones Walter