Na última semana participei da segunda edição da LESS (Lean Enterprise Software and System) na bela Estocolmo, Suécia. Não foram poucas as pessoas que me perguntaram o porque de eu ter optado por esta conferência. Minha resposta é simples: estou em busca de conferências menores, menos conhecidas, fora do eixo, pois é normalmente ali que coisas boas estão sendo discutidas. Não que as conferências mais populares, como Scrum Gathering ou Agile Conference não sejam boas, elas o são, mas já tem algum tempo que saio destas conferências com a percepção de que grande parte das pessoas estão ali a procura de evangelizar outras (vender seus processos, livros ou ideais), fazer networking ou … ambos. Poucos com a cabeça aberta para desafiar convenções, mudar de idéia, enfim.

No geral, a conferência foi excelente! Talvez a melhor que eu tenha participado desde o London Scrum Gathering 2007, que foi bem pequeno, quase um grupo de estudo reunido para aprender mais sobre Scrum. Abaixo vou listar os pontos fortes e um resumo das principais palestras e trilhas que participei.

No-chilique

Em tempos onde praticamente todos os lugares que se fala sobre Agile estão infestados de chiliques em volta de Kanban versus Scrum, só Lean Startup Salva, e coisas do tipo, a LESS foi exceção. Em cada roda de discussão que você entrava, era perceptível que ninguém queria ficar “degladiando” em volta de processos, mantras, e afins. Salvo raras exceções, tudo foi em volta de aprendizado e todos abertos a ouvir opiniões diferentes de suas “crenças”.

NOTA: Eu não participei de nenhuma roda de discussão onde o David Anderson estava presente…e, veja, o Ken Schwaber não estava lá. Eric Ries também não. Rs…

Organização

A organização do evento foi fantástica e totalmente community-driven. As instalações e localização do Clarion Hotel eram perfeitas e tudo funcionou muito bem – ou praticamente tudo,  já que como em quase todos eventos a internet foi sofrível.

Keynotes

Gostei muito do Keynote de abertura do Bjarte Bogsnes. Beyond Budgeting é um tema que me chama a atenção já há alguns anos e, por mais que eu já tenha feito o curso “Implementing Beyond Budgeting” com ele, a palestra apresentou insights interessantes e práticos, como os exemplos de Ambition to Action. Também gostei de ouvir as idéias de James Sutton em volta do tema Complexidade Organizacional e Lean. Simples, leve, mas que foi ótima para reforçar alguns conceitos de ligação disto com o mundo organizacional.

Infelizmente não posso falar o mesmo dos keynotes do segundo dia. Peter Middleton fez bastante confusão com alguns conceitos de Agile e Lean e, por mais que tenha contado histórias interessantes da evolução de Lean na BBC, deixou a platéia insegura quanto às reais razões para algumas aplicações e “mudanças” de Agile para Lean. Já Steve Denning, no keynote de fechamento do evento, fez o esperado: aquela apresentação onde todos damos risadas de piadas sobre nós mesmos ou de nossas organizações ou de outras organizações. Os conceitos que Denning apresenta são bem legais, mas, ao fim de sua palestra fiquei com a mesma sensação de quando terminei de ler seu livro “Radical Leadership”: muita história contada de forma inspiradora, mas que não nos ajuda muito e de forma pragmática a mudar a gestão nas organizações. Não muito diferente de você ler um livro com a história da Apple ou do Steve Jobs; ou da Google; ou da Amazon; ou <coloque aqui o nome de uma empresa que HOJE seja admirada pelo marcado>. Algo muito proveitoso que tirei deste keynote foi a colocação de Denning de que muitas empresas “optarão” por morrer ao invés de encarar de verdade a mudança. Forte mas real.

Trilha Transforming Organizations

Nesta trilha participei das palestras do Ari Tikka (Organizational Allienation) e do Francisco Trindade (Subject to Change). Ambas geraram bons insights para lidar com situações que esbarram na estrutura e cultura organizacional. O Frank citou a conhecida democracia da brasileira Semco e da indiana HCL para construir alguns bons conceitos para um processo de mudança organizacional, fugindo dos famosos “programas de mudança” com cartazes na parede, etc.

Trilha Complexity and System Thinking

Aqui assiti ao Jurgen Appelo falando de uma forma extremamente direta sobre a complexidade por trás das teorias relacionadas a sistemas complexos e pensamento sistêmico (complexo complicado, não?)…o conteúdo foi extraordinário, pena que para pouco tempo de palestra. Logo em seguida Karl Scotland falou da ciência por trás do Kanban, relacionando algumas teorias à forma de trabalho das organizações e de como o Kanban se encaixa ali…gostei bastante desta palestra.

Trilha Beyond Budgeting

Não tenho como negar que era a trilha que eu mais esperava e, felizmente, não sai decepcionado. Peter Bunce foi magnífico com “The Leaders’s Dilemma” abordando diversos exemplos negativos relacionados ao alinhamento de incentivos às metas. Bunce foi também crítico ao mostrar práticas mentirosas de Forecasting e de suas consequências nas organizações.

Na sequência Kajsen Hannson falou de como Beyond Budgeting é praticado no Handelsbanken, um dos bancos mais estáveis da União Européia e o mais rentável da Escandinávia. A organização do banco por branches que possuem total autonomia na gestão e no relacionamento com os clientes foi um dos maiores exemplos de empowerment que já ouvi falar. E veja, não estamos falando de empresa de mídia, mas sim de um banco.

Brian Hawkes (Driver-based forecasting and Dynamic Growth Management) fez uma palestra mostrando alternativas para o processo de forecasting em organizações. Usou exemplos de forecasting em vendas, com estrutura em rolling sem foco em “acertar” o que vai acontecer mas sim em “estudar” o que pode acontecer. Palestra bastante avançada para o público do evento, mas que forneceu pontos importantes a serem estudados.

Para fechar Paul Gooderham falou sobre motivação e o que realmente motiva os funcionários. Foi uma chuva de números baseada em pesquisas feitas em diversas empresas e com uma estrutura que na minha opinião soou um tanto quanto acadêmica. Foi o ponto fraco da trilha.

Workshops

O terceiro dia do evento foi reservado para diversos workshops apresentados por nomes como Jean Tabaka e Alan Shalloway. Eram temas bem interessantes, mas…a minha quarta-feira já estava reservada para uma visita que eu havia agendado bem antes de partir para o evento – ir conhecer Beyond Budgeting no Handelsbanken. A visita foi fantástica, mas os detalhes ficarão para um próximo post.

Mais informações

Segundo a organização do evento os slides das palestras estarão disponíveis no site da LESS 2011 ainda esta semana. Além disso, você ponde encontrar um excelente materil no Twitter procurando pela hashtag #LESS2011

Conclusão

Aprendi bastante nas palestras, nas conversas de corredor, nos almoços e na visita ao Handelsbanken. O LESS com certeza já é um evento reservado para o meu calendário de 2012.

Este post tem 3 comentários

  1. Paulo Rebelo

    Show de bola! Os temas foram muito bons mesmo, eu gostaria de ver as palestras da trilha de Beyond Budgeting, pois as empresas têm muito a aprender sobre forecasting (e eu me incluo nessa!). Vale a dica para participar da próxima LESS em 2012!

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