**
**

No mercado de TI, onde excelentes técnicos rapidamente são promovidos e se tornam líderes/gestores não tão excelentes, existe um enorme desafio em construir e estimular a contínua alta performance dos times. Esse desafio é representado de diferentes formas e tem diferentes impactos para os times, para os gestores/líderes e para a organização inteira.

É possível compreender esse desafio através de dois típicos cenários. No primeiro cenário, um novo líder/gestor tem uma grande dificuldade em compreender (e até mesmo aceitar) que o produto de seu trabalho mudou. Antes, resultado de seu trabalho era algo palpável, de natureza técnica e que geralmente resolvia diretamente um problema em algum produto de TI (Tecnologia da Informação) da organização. Agora, o resultado não é uma porção de código ou, alguma solução técnica, mas sim é a excelência (aka: performance) das pessoas.

Costumo metaforizar que antes o produto do trabalho de um excelente técnico, eram bits e bytes, agora, o produto do trabalho de um líder/gestor são as sinapses que ocorrem nos cérebros dos membros do seu time. E isso, na verdade é um desafio enorme.

O outro cenário comum, é buscar por ser a figura do líder-bonzinho-candidato-a-beatificação-que-todo-mundo-adora. Na verdade, esse cenário acaba sendo um caminho gerado pelo universo de literaturas “auto-ajuda like” sobre como ser um bom líder. Nesse cenário, com intuito de liderar pelo carisma e sem gerar atrito ou despertar conflitos com o seu time, o líder/gestor acaba sendo negligente com pontos críticos ao bom funcionamento do time e para a melhoria da performance do mesmo.

No meio dessa confusão toda, o maior prejudicado acaba sendo o próprio time. A intervenção exagerada na maneira como o time atua ou a total negligência, priva o time de ter acesso a ferramentas que ampliem sua consciência sobre o seu funcionamento e o ajude a crescer e produzir enquanto um sistema psicossocial intenso e complexo.

Contribuir de maneira de efetiva para a construção, crescimento e geração de valor de um time, é quase que uma arte. O mercado comumente usa a abordagem de Team Building para obter esses resultados. Fazer Team Building não significa apenas levar o time para fazer atividades ao ar livre (abraçar uma árvore ou alguma gincana lúdica, por exemplo). É preciso conhecer diferentes ciclos de vida de time e como eles podem ser representados e trabalhados dentro da dinâmica singular de cada time.

Através de um amplo e profundo conhecimento sobre a dinâmica dos times, é possível entender por exemplo, que a boa atuação do time muitas vezes é retardada pelo longo tempo que o mesmo leva para reconhecer, expor e resolver seus conflitos internos. Sendo assim, velar conflitos pode ser muito pior do que expor e atacar possíveis conflitos dentro do time. Assim, cabe a um líder/gestor ter meios para promover essa antecipação do reconhecimento e resolução dos conflitos do time. 

Outra dimensão importante, é a maneira como o time compartilha seus objetivos e, principalmente,  como o time computa mutuamente os resultados gerados por todos.   Essa é uma questão vital e que muitas vezes é esquecida pelas organizações. 

Como um time é uma espécie de Sistema Adaptativo Complexo (CAS – Complex Adaptive System),  fazer a “construção” (building) de um time pode não ser uma boa metáfora. Por ser um CAS, o time é um organismo vivo. Logo, “fazer a construção” acaba sendo uma abordagem muito exata para algo que está muito longe de ser exato. Sendo assim, uma abordagem que está ganhando força recentemente, é tratar o time como uma semente que precisa de um ambiente necessário, para que à sua maneira, cresça na direção almejada e produza os frutos desejados pela organização.

Jurgen Appelo, no livro Management 3.0, faz a metáfora de que o gestor deve atuar como um jardineiro (you are a gardener).  Essa ideia nasce do reconhecimento de que, por se tratar se um sistema vivo, não é possível determinar em detalhes e com exatidão como que as pessoas devem ser comportar dentro de um time.

Assim, um bom jardineiro (o gestor) não gerencia as pessoas, mas sim, o sistema(ambiente) necessário para que as mesmas atuem. Isso implica que o gestor deve trabalhar no sistema para que o mesmo estimule e forneça as condições necessárias para o time maximizar suas forças favoráveis e minimizar (ou eliminar) suas forças contrárias.

Por atuar como um jardineiro, o líder/gestor precisa agora de novas ferramentas para nutrir o ambiente. Antes, o gestor construía regras detalhadas sobre como o time deveria trabalhar para garantir determinado comportamento das pessoas, agora o gestor precisa de ferramentas que inspirem o time a trabalhar dentro de algumas restrições para que seja possível chegar em determinado resultado/direção.

É disso que se trata o Team Growing. Essa abordagem é uma compilação de ideias vindas do Team Building, Executive Coaching, Liderança Situacional,  Liderança Servidora, Psicologia Social e do próprio Management 3.0.

Por meio da AdaptWorks treinamentos, Rafael Nascimento e Eu, estamos compilando nossas ferramentas e experiências no treinamento pioneiro de Team Growing. Pretendemos gerar um treinamento verdadeiramente útil e transformador para quem precisa atuar com a construção e com a melhoria de um time. Rafael Nascimento, que além de um grande amigo, é um Team Builder de mão-cheia e tem uma experiência singular como ScrumMaster para empresas como Globo.com e Mongeral Aegon. Já Eu, estou trazendo para o treinamento minhas experiências em Coaching para times do segmento bancário/financeiro, de telecom e de diferentes produtoras de software. E claro que nesse treinamento, haverá muita pitada de ideias de Management 3.0 e da própria filosofia ágil.

Na verdade, muito mais do que apenas captar pessoas para as turmas desse treinamento, por meio desse texto, queremos gerar um massa crítica de pessoas (gestoras ou não), que estejam preocupadas em buscar melhores maneiras de melhorar o trabalho dos times e consequentemente, melhorar o pensamento organizacional como um todo. Portanto, teremos muita satisfação em simplesmente bater um bapo com você (por meio de comentários abaixo, redes sociais etc) sobre os temas inerentes à essa nova abordagem de Team Growing.

**A imagem do topo do texto é uma ilustração do livro Management 3.0 de Jurgen Appelo

Este post tem 4 comentários

  1. Romeu Ivolela

    Oi Manoel,

    Ótimo post e muito pertinente a um problema critico de mercado.
    Na minha carreira cansei de ver ótimos profissionais técnicos se tornarem gestores desastrosos.
    Liderar uma equipe, envolve humildade, paciência, responsabilidade, técnica ( aqui entenda-se estudar muito sobre lean, leanUX, kaban, scrum, teoria da complexidade, inteligênica emocional e técnicas de coaching ).
    Todo gestor tem o dever de desenvolver o seu time, passo a passo, num processo de aprendizado continuo.
    Empresas que negligenciam o desenvolvimento de times e dos seus respectivos gestores, vivem um processo eterno de turnover e de projetos fracassados.
    Conte comigo para mais este treinamento.

    Abs,

  2. Andre Mitsuoka

    Acho que isso tem muito a ver com a facilitação, deixar o time dizer o que ele precisa e quando ele precisa. O problema é que, geralmente, isso leva tempo e é difícil vender esse tipo de treinamento.
    Também não entendi COMO o líder vai atuar no sistema, qual vai ser o foco e as ações práticas.

    Abraços

    1. Manoel Pimentel

      Olá André, tudo bem? Realmente as técnicas de facilitação são um dos pilares dessa abordagem. Assim também como as técnicas de Coaching.

      Entendemos que na maioria das empresas, a dinâmica de um time é deficitária. E infelizmente a forma de atuação do seu gestor/líder também é insuficiente e muito longe de gerar um impacto positivo no time.

      A ideia de fazer Growing (ou Building) é usar mecanismos, com início, meio e fim para ajudar o time a encurtar seus ciclos de formação, conflitos e geração de valor. Dessa forma, o gestor (ou líder) terá meios para ajudar o time a melhorar sua dinâmica diária, sua forma de interação entre os membros e, principalmente, evitar/eliminar as disfunções que impedem o time a alcançar uma boa atuação dentro da organização.

      Valeu!

      Manoel

  3. Paulo Ladeira

    Excelente post Manoel!

    Fiquei bastante curioso com esse treinamento. Vejo que é um paradigma interessante em que vivencio diariamente. E “encurtar seus ciclos de formação, conflitos e geração de valor” será um grande diferencial sempre.

    Conte comigo no grupo de pessoas “que estejam preocupadas em buscar melhores maneiras de melhorar o trabalho dos times e consequentemente, melhorar o pensamento organizacional como um todo”.

    Abraços e parabéns novamente!

Deixe um comentário