Estamos cansados de saber que mudar é uma condição vital para sobrevivência das organizações. Na verdade,  uma organização precisa simplesmente reconhecer que devido a sua natureza complexa e adaptativa,  mudança é um estado permanente. Mas o que faz algumas organizações terem mais facilidade em mudar do que outras ? Será que os processos determinam isso? Será que as estruturas organizacionais é que são responsáveis pela dificuldade ou facilidade em mudar? Vamos analisar um pouco isso!

Primeiro, é importante desmitificar o que é mudança. Para muitas empresas, mudar é algo pesado, doloroso, demorado e que carece de um programa de vários meses/anos para conduzir a mudança.  Precisamos entender que mudar não precisa ser isso. Mesmo sem percebermos, mudança é algo natural e inevitável. Na prática,  estamos diariamente mudando pequenos pensamentos e comportamentos. E por se tratar de eventos tão sutis, não percebemos ou ignoramos que tais mudanças acontecem. Ou seja, mesmo sem querer, mudar é um estado padrão.

É importante notar que mesmo com essa habilidade natural para essas mudanças imperceptíveis, temos um enorme problema/dificuldade em fazermos mudanças deliberadas.   Mudanças deliberadas são aqueles momentos onde temos consciência da mudança e processo inerente à ela.

E como já falei anteriormente,  curiosamente as organizações tem um grande déficit de adaptabilidade (https://blog.adapt.works//2013/01/31/deficit-de-adaptabilidade-uma-questao-de-ordem-para-as-organizacoes/) face a essas mudanças deliberadas.  Dessa forma, temos então o desafio de: Como reduzir ou eliminar esse déficit? A resposta pode estar dentro de nós mesmos. Mas especificamente em nossos cérebros.

Se ampliarmos a compreensão sobre como o ser humano endereça as mudança,  vamos cair sobre a nossa estrutura cognitiva. Em especial, a capacidade que o nosso cérebro tem em mudar e se adaptar face a novos desafios.

Na neurociência essa característica  é chamada de Neuroplasticidade.  Segundo a Wikipédia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Neuroplasticidade):

Neuroplasticidade (também conhecido como remapeamento cortical) refere-se a capacidade do cérebro de modificar sua estrutura e função, em decorrência de experiências anteriores, estas experiências podem ser o processo de aprendizado, um trauma ou lesão, devido o cérebro ser “plástico” e “maleável”.

A neuroplasticidade não só é uma habilidade natural, como também é uma característica vital para situações de crise.  Um exemplo isso são os casos de pessoas que passaram por lesões na região da cabeça e que tiveram alguma área do cérebro atingida. Muitas dessas pessoas, conseguiram que seus cérebros construíssem novos caminhos alternativos para funções como fala, escrita ou qualquer outra habilidade cognitiva.

De acordo com uma importante publicação no Harvard Business Review (http://www.hbrbr.com.br/%5Bfield_page_categoria-term-raw%5D/preparo-cognitivo?quicktabs_most_popular=0):

A agilidade do cérebro resulta daquilo que os autores chamam de preparo cognitivo, ou boa forma cognitiva — estado otimizado no qual a capacidade de raciocinar, recordar, aprender, planejar e adaptar é reforçada por certas atitudes, opções de vida e exercícios. Exercitar a mente é crucial. Estudos de imagens do cérebro indicam que adquirir o domínio em áreas tão diversas como tocar violoncelo, lançar malabares, falar uma outra língua e guiar um táxi amplia e torna os sistemas neurais mais comunicativos. Ou seja, é possível mudar a configuração física do cérebro com o aprendizado.

Quanto melhor o preparo cognitivo, melhor a capacidade da pessoa de tomar decisões, resolver problemas, lidar com o estresse e mudanças. Com uma boa forma cognitiva, a pessoa ficará mais aberta a novas ideias e pontos de vista alternativos. Terá a capacidade de mudar o comportamento e atingir metas. Poderá retardar em anos a senescência e até desfrutar de uma segunda carreira.

Com um aproveitamento seletivo da pesquisa em neurociência, que cresce rapidamente, e de pesquisas consolidadas em psicologia e outras áreas da saúde mental os autores identificaram quatro passos a tomar para manter a boa forma do cérebro: entender como o cérebro cresce com a experiência, brincar, procurar padrões e buscar novidades e inovações. Aí estariam algumas das principais oportunidades para que a pessoa mantenha o cérebro engajado e criativo.

É importante notar que neuroplasticidade pode ser exercitada/melhorada por meio de práticas de boa forma cognitiva. Logo,  quanto mais boa forma cognitiva, menos déficit de adaptabilidade uma pessoa terá.

 Assim também são as empresas. Tomando como base que uma organização tem uma grande inteligência coletiva, podemos metaforizar que uma empresa é uma grande cérebro organizacional.

É nesse ponto que entra o que estou chamando de organoplasticidade. Atualmente, para as organizações, ter dificuldade em mudar poder ser considerado um comportamento disfuncional. Se sua empresa está com dificuldade em mudar, é porque ela não está com a disciplina de exercitar continuamente  a organoplasticidade. Nesse ponto, vale destacar que:

  • Assim como a neuroplasticidade, a organoplasticidade também é uma habilidade natural para as empresas.
  • Igual a neuroplasticidade, a organoplasticidade também é negligenciada ou pouco praticada pelas empresas.

Estimular a organoplasticidade  significa que uma empresa está aumentando sua boa forma organizacional. Essa boa forma organizacional, pode ser traduzida como uma capacidade maior de suportar crises, grandes transformações e principalmente, aumentar sua capacidade de responder à complexidade dos mercados.

Nesse momento você pode estar se questionando sobre “Como estimular a organoplasticidade?” Talvez você esteja esperando um mega-ultra-blaster método para fazer isso. Contudo, talvez não seja possível elaborar uma  só forma  de estimular a organoplasticidade.  Mas, o segredo é reconhecer que temos essa habilidade natural e, ao invés de tentar  mudar a  cultura, ou os valores ou fazer “mega-mudanças” em suas organizações,  estimule a organoplasticidade fazendo a intervenção sistêmica mais factível de todas, busque pequenas formas diferentes de interagir com os outros elementos e com o ambiente inteiro.

Na neuroplasticidade, uma forma de você exercitar a boa forma cognitiva é fazendo pequenas atividades diárias de forma diferente, por exemplo, escrever com a mão contrária (escrever com a esquerda, se você for destro). É importante observar a sutileza do exercício. Ou seja, você inverte a mão que faz determinada tarefa apenas para exercitar a neuroplasticidade.Você não vai passar a escrever com a mão esquerda para sempre, por exemplo.

Assim é na organoplasticidade,  as pessoas de uma empresa precisam ter certo grau de desapego aos seus processos e forma de interações para sentirem-se livres para praticar uma forma diferente, pelo simples benefício de exercitar a organoplasticidade, ou melhor, sem uma grande preocupação em fazer aquele jeito diferente para sempre.  Quando as empresas começarem a praticar essa abordagem, mudar será reconhecido como algo natural e sem grandes traumas para as organizações.  Portando, por uma questão de saúde e longevidade empresarial, que tal iniciarmos a era da organoplasticidade em nossas empresas?

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