Ouço muitas pessoas dizendo que precisamos de uma gestão descentralizada para sermos ágeis e eu até concordo com esta afirmação. Mas quando falamos de gestão ágil (e cada vez mais falamos disso) eu vejo algo muito além.
Pra começar, eu não acredito que a gestão descentralizada seja um desejo. Para mim é uma consequência. Se ainda acreditamos que a descentralização significa eliminar a figura do gestor, eu já vou questionar se por algum acaso nós não entendemos tudo errado.
Isso porque muitos que levantaram a bandeira do ágil também empregaram um discurso de libertação associado a times auto-organizáveis e empoderados. A figura do gestor foi demonizada. Sejamos francos!
A auto-organização foi colocada no pedestal e de forma indiscriminada passamos a acreditar que ela é sempre boa.
Condenar o modelo de gestão comando-controle foi algo até natural a partir do momento em que reconhecemos que as organizações já estavam inseridas no contexto de complexidade. Mas batemos muito as nossas cabeças tentando bancar modelos auto-organizáveis do dia para a noite, o que, em minha opinião, gerou uma distorção gigantesca.
É como se chegássemos em nossa organização e chutássemos o gerente para qualquer lugar bem longe dali. E logo nós que dizemos o tempo todo que o ágil trouxe para o nosso dia a dia aspectos como tolerância a falhas, aprendizado e feedback… maravilhoso, trágico e cruel ao mesmo tempo, não é mesmo?
Prefiro manter meus dois pés bem firmes no chão e apostar as minhas fichas em organizações e gestores que entenderam a necessidade de mudança de mindset de gestão e, de forma gradual e responsável, cada vez mais trabalham o aspecto de liderança dentro dos times e preparam um ambiente harmonioso em detrimento do simples controle de recursos.
No fundo, nós não queremos uma gestão descentralizada.
O que nós queremos na verdade é que nossos times sejam capazes de cada vez mais tomarem certas decisões e principalmente assumirem a responsabilidade sobre elas. O que nós queremos na prática são pessoas cada vez mais engajadas e para isso concedemos algum nível de autonomia para que elas colaborem melhor entre si e se sintam motivadas. O que queremos são pessoas que tenham a visão do todo e saibam o impacto das suas atitudes e decisões, para isso criamos um ambiente colaborativo. E principalmente, nós queremos que nossos times sejam resilientes.
Enfim, é isso o que queremos!
É por isso que eu acredito que o objetivo desta mudança de pensamento deve ser o time! É muito mais saudável tratarmos desta forma ao invés de colocarmos um alvo na testa dos gerentes. Até porque o empoderamento é um longo caminho de aprendizado cheio de nuances e obstáculos. E, digo mais, é um caminho de mão dupla: o time aprende com liderança e a liderança também aprende com o time.
Nenhum líder em sã consciência vai simplesmente “delegar” as suas responsabilidades para o time sem um mínimo de critério e preparação. Aliás, isso não é empoderar e muito menos delegar!
O que a liderança deve fazer é questionar o que deve ser descentralizado / compartilhado e os motivos que o levam a fazer essa opção. A partir daí podemos começar a percorrer esse caminho junto com o nosso time.
E aqui não estamos falando de empurrar problemas para o time ou atribuir a eles responsabilidades que já são deles. Estamos falando de iluminar as fronteiras de decisão, melhorar a argumentação, tolerar falhas, compartilhar, instruir, saber ouvir, avaliar como o time reage diante dos obstáculos.
A delegação deve sempre partir do princípio do benefício comum para o time e também para a organização e, além disso, estar alinhado com os objetivos da nossa empresa. Um bom gestor / líder não delega para ser bonzinho com o time. Aliás, isso também não é delegar!
Uma ótima ferramenta para discutirmos a delegação e empoderamento com nossos times é o “delegation board” que apresentamos no treinamento de Management 3.0 através de dinâmicas e provocações sadias e pertinentes.
Lembre-se que empoderar é algo que vai demandar muita energia de todos e para você que já está nesta trilha ou pretende percorrê-la eu faço os seguintes questionamentos:
Você acredita que esta experiência fará de você um gestor ainda melhor?
Quais lições de liderança você acredita que poderá transmitir para outros líderes ao percorrer esta trilha?
E, para encerrar, eu deixo aqui a seguinte reflexão:
Quais visões do Management 3.0 podem se beneficiar do “Delegation Board”?
Empoderar times, alinhar restrições ou alguma outra? Ou será que ele pode nos ajudar com todas elas?
Reflita e deixe a sua opinião sobre a gestão descentralizada. ?
É isso, pessoal!
Até a próxima!