Introdução
Nós somos ágeis! Temos um time numa sala, fazemos daily e retrospectiva! Temos product owner, scrum master e sprints! Escrevemos user stories e temos critérios de aceite!
Uau! O gestor da área orgulhosamente afirma que os times são ágeis e estão em nível avançadíssimo no uso desta forma de trabalho.
Realmente, numa primeira impressão, pode parecer um case em que qualquer empresa gostaria de se espelhar e almejar chegar ao mesmo nível de excelência.
Fazendo um paralelo com situações cotidianas, você já se viu reavaliando um produto ou serviço após ganhar mais conhecimento sobre ele ou seu processo? Por exemplo, quem já passou pela experiência de comprar móveis embutidos, que estão lindos expostos na loja, mas após a compra, começa o suplício, com atrasos, móveis fora do padrão, que não encaixam ou estão fora da medida do local de instalação, etc?
Para quem é leigo num assunto e/ou não passou pela experiência, sua observação de certos detalhes e possíveis problemas está limitada, justamente por desconhecimento e/ou falta de vivência. A pessoa fica encantada com o que é exposto, mas ao ter contato mais próximo e tempo de convivência com o produto ou serviço comprado/contratado, pode perceber inúmeros detalhes e problemas não aparentes no primeiro momento.
Análise
Isso é possível acontecer em vários produtos e serviços, e com ágil não é diferente!
Apesar de existirem muitos bons exemplos de ágil, também temos vários maus exemplos. Um dos mais comuns é o que chamamos de Teatro Ágil.
Numa primeira olhada, o ambiente impressiona, todos os times parecem usar o estado da arte do ágil, fazendo uso dos frameworks, práticas e ferramentas de acordo com as recomendações.
Entretanto, olhando mais de perto, passando um tempo com os times e fazendo algumas perguntas, começamos a notar que tudo não se passa de um teatro. O objetivo é somente mostrar aos outros que ágil está sendo aplicado, porém os benefícios do ágil não estão sendo colhidos. Por quê?
Revisitando os Princípios Ágeis
Lembram os princípios do Manifesto Ágil?
De nada adianta ter o ambiente do escritório todo aberto, quadros na parede, post-its colados, times próximos, reuniões e práticas sendo executadas, se nenhum dos princípios está sendo seguido.
O que vem primeiro são os princípios, e em cima deles, achamos formas, práticas e ferramentas para conseguir chegar na realidade proposta em cada princípio.
- O cliente está realmente tendo entrega contínua e adiantada de software (ou outro produto/serviço) de valor?
- O time responde rápido a mudanças nos requisitos?
- Continuous delivery é uma realidade na empresa?
- As pessoas de negócio realmente fazem parte do time e estão disponíveis?
- Os times estão motivados e tem autonomia de decisão dentro de seu domínio de conhecimento?
- A daily é um momento de comunicação real ou meramente um ritual odiado por todos?
- Entregas de software/produto/serviço funcionando são frequentes?
- Há um ritmo sustentável de execução do fluxo de desenvolvimento?
- Os times não são atropelados ao quererem fazer o trabalho com excelência técnica e de design?
- Todos têm a liberdade de propor mudanças para maximizar a simplicidade no trabalho?
- Os times têm liberdade para se auto-organizar para definir arquiteturas, requisitos e designs?
- As retrospectivas têm como saída ações que são implementadas para o time se tornar mais eficaz?
Usar ágil não é o objetivo em si, se uma empresa quer adotar ágil porque é o que todo mundo está fazendo, já temos um problema. Ágil é uma forma de mostrar e resolver problemas, então para começar, precisamos saber que problemas precisam ser resolvidos. O sucesso do ágil é medido pelo valor que ele traz para a empresa e seus clientes.
Olá Vitória. Parabéns pelo post. Eu também tenho a mesma impressão em certas ocasiões, onde se preocupam mais com a forma do que o conteúdo em si. É uma jornada árdua, onde existem várias lacunas a serem preenchidas e diversas perguntas ainda sem resposta.
Obrigada Alessandro! Sim, o caminho é longo, mas o importante é manter-se em modo de constante aprendizado. Abraços!
Olá Vicky! Gostei muito, ótimo post!
Já trabalhei em alguns lugares onde métodos ágeis são bem aplicados (e estão em constante aperfeiçoamento).
Mas em outros locais, já vivenciei exatamente o que você descreveu: “ágil” só nas aparências, sem mudança de cultura da organização.
Parabéns pelo seu trabalho!
Obrigada André! É bom que você teve a experiência de boa aplicação do ágil em alguns lugares. Infelizmente é comum encontrar descrença no uso de frameworks, metodologias e outras práticas (ágeis ou não) justamente pelo desconhecimento dos fundamentos das mesmas, sua aplicação em contextos inadequados, ou falta de tempo para o amadurecimento e aculturamento delas. Quanto mais pessoas se conscientizarem disso, melhor para todos!
Oi Vicky, obrigado por compartilhar. Como permitir que as pessoas de fato entendam o propósito é assim comecem a de fato enxergar valor, praticar valor é entregar valor. Existe alguma ferramenta que ajude nesse processo ou é mesmo o aprendizado pela dor que leva a uma quebra de paradigma?
Obrigada pelo comentário David! Realmente, esse ponto que você questionou é importante. Como fazer com que as pessoas tenham esta percepção e quebrem seus paradigmas? Aqui eu cito uma frase de Daniel Pink, do livro que estou lendo agora To Sell is Human: The Surprising Truth About Moving Others:
“Clarity on how to think without clarity on how to act can leave people unmoved.”
Refletindo sobre esta frase, que essencialmente significa que clareza sobre como pensar sem clareza sobre como agir pode deixar as pessoas impassíveis, imagine se você já observou isso acontecendo alguma vez. Conseguiu recordar de alguma situação ou experiência assim? Uma explicação teórica por melhor que seja feita, não necessariamente leva a uma ação. Agora, unindo ambos, teoria e práticas, podemos ter um resultado melhor para gerar movimento nas pessoas. Existem várias ferramentas para ajudar nesta tarefa, mas o mais importante é reforçar a experimentação, para que vejam por si mesmas que mudanças estas quebras podem trazer. De preferência experimentos rápidos para gerar feedback o quanto antes, para que aprendam com os erros e acertos. É primeiro quebrar o paradigma da prescrição, para que tomem consciência que o que está sendo proposto é o início de um caminho que eles próprios vão trilhar e que neste trajeto usarão algumas ferramentas para dar o pontapé do processo, mas que depois de iniciado, poderão evoluir as ferramentas, processos, etc naturalmente.