– O que você deseja realizar em 20% do seu tempo?

No livro “Motivação 3.0” Daniel Pink aborda os três elementos da verdadeira motivação: autonomia, excelência e propósito. E o faz apresentando experimentos, técnicas e casos reais de empresas que adotaram estratégias inovadoras para motivar seus funcionários na criação do “novo”.

No tema relacionado à autonomia, é apresentada a história de Scott Farquhar e Mike Cannon-Brookes, cofundadores da Atlassian. Eles são conhecidos por promover uma cultura de inovação e criatividade, adotando práticas únicas como o experimento “tempo de inovação”.  

A ideia é dedicar um dia do seu trabalho para projetos de inovação pessoal. Neste espaço de tempo, é permitido aos colaboradores trabalhar em algo diferente do dia a dia, mas que promova a melhoria de funcionalidades dos produtos da organização.

Eles decidiram encorajar os times a dedicarem-se a qualquer problema que quisessem, mesmo que não fizesse parte do seu serviço.  Não é bem um tempo de folga, mas um momento para realizar ideias, fazer reparos e pensar em inovação. O experimento que iniciou em 2002 tornou-se parte da cultura da empresa, e foi estabelecido que a cada trimestre seria reservado um dia inteiro para trabalhar no que desejassem.  Com uma condição: não poderia ser algo rotineiro ou parte do trabalho habitual.

Este dia foi chamado de FedEx Day (em alusão às entregas rápidas da FedEx em 24 horas). Em depoimento, alguns engenheiros de software comentaram que durante os dias de inovação “algumas das coisas mais bacanas surgiram”.

Não houve pagamento de horas extras ou bônus de participação nestas 24 horas. É um plano simples de dar autonomia às pessoas, e elas entregam o melhor através desta motivação.  Como resultado deste experimento, a Atlassian, em 2008, estabeleceu que os desenvolvedores poderiam dedicar 20% de seu tempo (em vez de um dia) a qualquer projeto que lhes interessasse.

A abordagem de Farquhar e Cannon-Brookes demostra o reconhecimento da importância de dar aos funcionários tempo e espaço para explorar a criatividade. Ao permitir este momento, a Atlassian valoriza a autonomia – motivação intrínseca – e a busca por excelência. Esses são elementos cruciais citados por Daniel Pink para alcançar a motivação dos trabalhadores de conhecimento.

Outro exemplo que transmite a mesma abordagem de tempo para inovação vem da 3M com os momentos de “rabiscos experimentais”. William McKnight, fundador da empresa – nos anos 40 – incentivava a criatividade, experimentação e entendia que todos os colaboradores tinham oportunidade de inovar em 15% do seu tempo. Eram valorizados os “rabiscos” de ideias como forma de estimular a geração de novas soluções. Alguns resultados notáveis, como Post-it e filme para retroprojetores, foram idealizados nesses momentos e deixaram o legado do McKnight como um grande exemplo inspirador para as lideranças futuras.

É notório que este tempo e disponibilidade para inovação ajudam no alinhamento da comunicação entre departamentos e silos. Dessa forma, as pessoas podem agrupar-se da maneira que desejarem para trabalhar no “novo”. Essa abordagem conecta-se muito bem com o Scaled Agile Framework diretamente no princípio #8 – Destravar motivação intrínseca de trabalhadores de conhecimento.

O SAFe orienta que a autonomia é permitida por meio de palavras e ações, e é necessário alocar tempo para trabalho autodirigido e exploratório. Isso acontece exatamente como sugerido por Farquhar e Cnnon-Brookes e por McKnight nesse tempo “livre para inovação”.

Durante um PI (Planning Interval), existem momentos em que aplicamos esse conceito de autonomia com o espaço de tempo dedicado à inovação.  Primeiro, durante os breakouts na PI Planning, sugere-se que os times planejem com uma folga de 20% entre capacidade e carga a cada iteração.  Esse momento criado é considerado o tempo “livre para inovação” nos times.

Outro momento de planejamento desses 20% é quando se sugere que a última iteração, ou seja, a IP Iteration, não tenha carga de trabalho planejada. É tempo para inovar através de hackatons, avanços de infraestrutura, correções de débitos técnicos e exploração.

O SAFe (Scaled Agile Framework) consolida seu foco em entrega de valor e aprendizado contínuo, sugerindo que utilizem estes 20% do tempo para atividades de pesquisa, design e construção do novo para suas cadeias de valor.

A reflexão sugerida para a próxima reunião de planejamento do ART ou dos times é: “O que será feito com 20% do tempo para inovação?”

Alaide Pitombeira

Mais de 5 anos de experiência profissional com agilidade e 15 anos atuando em TI em diversos segmentos: industrias, banco, projetos para governo. Scrum Master, SPC (SAFe Practice Consultant) Agilist, ICP (instructor Authorization) e Certified Agile Coach pela ICAgile"

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