A adoção de metodologias ágeis no setor público brasileiro tem crescido rapidamente. Cada vez mais órgãos federais, estaduais e municipais buscam aplicar os princípios Lean-Agile para aumentar a eficiência, melhorar a entrega de valor à sociedade e otimizar o uso de recursos públicos.

Nesse cenário, surge uma dúvida comum entre líderes e gestores:
qual a diferença entre o treinamento Leading SAFe tradicional e o Leading SAFe for Government (SAFe Gov)?

Ambos ensinam os fundamentos da Liderança Lean-Agile, mas o SAFe Gov foi especialmente adaptado à legislação, às regras orçamentárias e aos processos de contratação do setor público.
A seguir, exploramos os principais desafios e como cada versão do curso os aborda — com foco na realidade brasileira.


1. Financiamento vs. Fluxo Contínuo: o desafio do ciclo orçamentário

O grande obstáculo da administração pública no Brasil é o Ciclo Orçamentário Anual, que define o ritmo dos investimentos e da execução de projetos.

  • Leading SAFe (padrão):
    Foca no financiamento por Value Stream (fluxo de valor contínuo) e no Lean Portfolio Management (LPM). O objetivo é dar previsibilidade e flexibilidade ao investimento, substituindo o controle de custos pelo controle de resultados.
  • SAFe Gov (cenário brasileiro):
    Aborda o desafio de manter Value Streams contínuos quando o orçamento é liberado por exercício fiscal e vinculado à Lei Orçamentária Anual (LOA).
    O treinamento ensina líderes a mapear projetos anuais como Epics dentro de um Value Stream perene, garantindo conformidade fiscal e alinhamento com a missão pública.

2. Aquisição e Contratação: quando a licitação desafia a agilidade

Lei nº 14.133/2021, que rege as licitações e contratos administrativos, é um ponto crítico para qualquer iniciativa ágil no governo.

  • Leading SAFe (padrão):
    Parte do pressuposto de um ambiente flexível de contratação, com ênfase na capacidade de entrega e na colaboração entre times.
  • SAFe Gov (cenário brasileiro):
    Prepara Product Managers e Release Train Engineers (RTEs) para trabalhar em ambientes com múltiplos fornecedores, consequência natural dos processos licitatórios.
    O curso orienta sobre como estruturar contratos que favoreçam equipes auto-organizadas e alocação flexível de recursos, evitando restrições contratuais que inviabilizam a agilidade — um problema frequente nas consultorias de TI públicas.
    O foco é garantir que o processo de aquisição seja um impulsionador da agilidade, e não uma barreira.

3. Governança, Conformidade e Controle: agilidade sob auditoria

A cultura de controle é uma marca da administração pública brasileira, reforçada pela atuação de órgãos como o Tribunal de Contas da União (TCU).

  • Leading SAFe (padrão):
    Valoriza a tomada de decisão descentralizada e a confiança nas equipes.
  • SAFe Gov (cenário brasileiro):
    Mantém esses princípios, mas insere um componente essencial de compliance e rastreabilidade.
    Mostra como o SAFe, por meio da transparência do backlog, das métricas de desempenho e do Lean Portfolio Managementnão apenas atende, mas supera as exigências de auditoria e governança.
    Assim, é possível comprovar de forma objetiva o retorno do investimento público e o alinhamento com o interesse social.

Conclusão: traduzindo agilidade para o idioma da Lei e do Orçamento

Enquanto o Leading SAFe forma líderes Lean-Agile preparados para o ambiente corporativo, o Leading SAFe for Government capacita gestores públicos a traduzir a agilidade para o idioma da Lei e do Orçamento brasileiro.
Essa tradução é o que torna a transformação ágil sustentável, respeitando o marco legal e ampliando o valor entregue à sociedade.

Alaide Pitombeira

Mais de 5 anos de experiência profissional com agilidade e 15 anos atuando em TI em diversos segmentos: industrias, banco, projetos para governo. Scrum Master, SPC (SAFe Practice Consultant) Agilist, ICP (instructor Authorization) e Certified Agile Coach pela ICAgile"

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