Estive lendo um artigo interessantíssimo na Harvard Business Review sobre foco na confiança, “Chegou a hora de uma cultura da franqueza“, de James O’Toole e Warren Bennis. Interessante porque o artigo justifica muito do que pregamos em Scrum, mais especificamente a questão da mudança organizacional — o que me levou a rever o conteúdo da palestra do Alexandre Magno no Scrum Gathering Brazil 2009.

Em resumo, o artigo ressalta a importância de uma organização em ser sincera com o público, mas para que isso aconteça, é necessário ser sincera consigo mesma primeiro. E ter franqueza dentro de uma organização é muito mais difícil do que parece. Isso porque a maioria das pessoas já está habituada com a sonegação de informação, com groupthink (quando os integrantes de uma equipe não sabe discordar dos colegas), e principalmente, porque boa parte dos líderes não possuem a capacidade de ouvir seus seguidores, o que pode fazer com que se sintam inibidos e não tenham a coragem de contestar o chefe.

Quem trabalha com Scrum sabe a importância da franqueza no dia a dia. Afinal, essa é a base de uma framework colaborativa como Scrum — utilizar a franqueza para relatar impedimentos, no autogerenciamento, nas Sprint Reviews, etc. E é gratificante ver que algumas empresas já enxergam essa necessidade de transparência e franqueza dentro de uma organização.

De acordo com a palestra do Alexandre, para se atingir esta mudança é necessário mudar o comportamento das pessoas. Mas algumas empresas tentam fazer isso através de uma abordagem errônea. Vejamos:

Em 1971, o psicólogo social Philip Zimbardo conduziu um experimento na universidade de Stanford, que posteriormente foi relatado em seu livro The Lucifer Effect. No livro, ele conta como foi o experimento e como ele fugiu do controle: em um porão de um dos prédios da universidade, uma prisão de mentira foi criada e os voluntários foram divididos em dois grupos: um deles faria o papel de carcereiros, enquanto o outro seria de prisioneiros. Entretanto, os voluntários levaram a encenação tão a sério que o experimente teve que ser interrompido no meio. Isso porque os “carcereiros” começaram a cometer abusos físicos e psicológicos contra os “presos”.

A conclusão do psicólogo foi a de que “quase todo mundo está sujeito a passar para o lado do mal, pois a conduta humana é ditada mais pela situação e pela dinâmica do grupo do que pela natureza inerente do indivíduo“. Assim, ao invés das empresas gastarem milhões em aulas de ética na esperança de que as pessoas passem a se portar bem, seria muito mais eficaz criar uma cultura interna que premie o indivíduo que age corretamente.

Por isso, líderes devem sempre se policiar de forma a se manterem abertos a questionamentos e encará-los de forma positiva (ScrumMasters estão incluídos nessa).

O artigo termina dando algumas dicas para se criar uma cultura de franqueza — lembrando que antes de tentarmos mudar alguém ou algo, é necessário mudarmos nossa própria conduta para depois tentar isso externamente:

  • Diga a verdade.
  • Incentive as pessoas a falar a verdade aos líderes.
  • Premie dissidentes.
  • Aprenda a travar conversas desagradáveis.
  • Diversifique suas fontes de informação.
  • Admita seus erros.
  • Gere apoio organizacional para a transparência.
  • Liberte a informação

Pois é, isso só corrobora a idéia de que estamos trilhando o caminho correto. E você, o que acha?

Este post tem 3 comentários

  1. Renata

    “A verdade dói” e as pessoas não estão muito bem preparadas para aceitar isso, estão numa zona de conforto que não a deixam ver as verdades. Mas é preciso trabalhar diariamente essa questão.

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