“Só fazer um MVPzinho”, “A gente entrega tipo um MVP”, “Esse é um MVP do MVP”, “Faz o MVP mesmo para atender o prazo”, “Vai ter que cortar escopo, vamos de MVP”, “Pode ser uma versãozinha qualquer, é só um MVP”.
Essa foi uma pequena coleção de frases que circulam em ambientes corporativos. Quantos outros contextos podemos destacar para falar da utilização do acrônimo “MVP” (Minimum Viable Prduct ou Produto Mínimo Viável) hoje em dia?
Então, vamos partir de um princípio que pode trazer algumas provocações para nossa mente. Em alguns casos podemos assumir que nós não sabemos qual solução atende melhor nosso cliente, e até os próprios clientes não sabem exatamente a melhor solução para sua necessidade.
Com a era digital percebemos que as pessoas moldam os produtos, assim como os produtos também podem moldar as pessoas, eu diria até que chegam a criar novas “versões” de seres humanos.
Tratar dessa forma parece até uma atitude negligente, mas observem como está diferente o comportamento no consumo de serviços e produtos nos últimos anos e você vai entender.
Chega a ser estranho receber um SMS de um amigo, após o Whatsapp, ou fazer download de um álbum de música, após o Spotify e Deezer.
Quando falamos de MVP estamos nos referindo a explorar e conhecer mais sobre o mercado. O pensamento está voltado não para construir um produto, mas para colher feedback do seu cliente de forma rápida e econômica.
Qual a menor parte de solução que eu posso entregar para resolver o problema mais importante do usuário mais importante do meu produto/serviço no momento?
Para responder essa pergunta, você pode começar pensando em quais hipóteses você quer validar no mercado.
Claro que existe um processo criativo para ideias de possíveis soluções a serem testadas, o que vamos abordar em outro artigo, mas nesse contexto não devemos descartar também o princípio de Pareto (que se aplica a negócios) que traz o conceito de que na maioria das situações, 80% das consequências são resultado de 20% das causas.
É indicado utilizar como base algum padrão de mercado para criar hipótese e pensar de forma enxuta para construir, medir e aprender:
“Acreditamos que [a proposta do negócio ou ideia] irá resultar em [tais consequências] e saberemos que tivemos sucesso quando [valores mensuráveis, como x > y, ou z%]” (Fernanda, 2016)
Essa forma de escrever hipótese carrega também o aspecto positivo trazendo uma reflexão que se não for possível provar o próprio sucesso, já pode ser um indicador de que a direção pode não estar correta.
E se remover a palavra PRODUTO do termo MVP?
Existem algumas variações de MVP no mercado, como MLP (Minimum Loveable Product ou Mínimo Produto Amável), mas e se pensarmos em retirar a palavra PRODUTO e colocar PREMEDITADO.
Essa provocação é muito bem citada pelo canal “Development That Pays”, que aborda o exemplo de três cases de MPV de sucesso.
O DropBox é um deles, que utilizou a estratégia de criar um VÍDEO explicando a utilização do seu produto, o que despertou o interesse de muitas pessoas. Como consequência desse experimento, a lista de espera para a versão Beta do DropBox passou de 5 mil para 75 mil pessoas, do dia para a noite.
Percebam que não foi criado nenhum produto para validar a hipótese do Dropbox.
Temos também um ótimo exemplo no mercado brasileiro. Veja um trecho da entrevista do CEO da Easy Taxi:
“Eu criei a plataforma na mão. No início, criei o MVP (produto viável mínimo, versão mais enxuta possível de um produto focada em testar e validar a ideia) e fiz uma validação. Peguei uma página pronta na internet com um formulário para pedido de táxi. Eu recebia os pedidos, entrava no Google Maps, achava os pontos de táxi, pedia o carro, ligava para o cliente e avisava o número do carro e o nome do taxista. Vi que funcionava e fui procurar os sócios de tecnologia. Somos quatro. Eles construíram a plataforma mobile em cima da lógica que eu tinha criado.”
Resultado disso: baixo investimento, clientes reais e serviço entregue.
Perceba que a real intenção foi conhecer o mercado e validar suas hipóteses.
E quando a hipótese dá errado, também quer dizer que deu certo?
Não podemos somente exaltar a questão de validar hipóteses, e sim destacar o momento de invalidar hipóteses e gerar aprendizado antecipado.
Uma visão geral desse contexto poderia ser demonstrado assim: Dessa forma, podemos colher os benefícios de antecipar aprendizado, eliminar escopo supérfluo e conhecer mais sobre o seu usuário através de feedback contínuo.
Quando alguém falar de MVP novamente, se questione se existem essas características que comentamos aqui: Valida alguma hipótese? Resolve um problema real de um usuário real? Existe uma forma clara para medir o resultado? Gera aprendizado? Tem baixo custo e baixo tempo de desenvolvimento?
Diante da reflexão, convido você a compartilhar essas informações com seus colegas e discutir em conjunto:
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MVP é apenas um conceito, um método, uma prática ou é uma forma de pensar (mindset)?
No próximo artigo vamos desenvolver novas ideias diante dessa pergunta, continue nos acompanhando!
Referências
- Gauchazh (2014). Criador do Easy Taxi: “No início, fui visto com muita descrença”. Disponível em: https://gauchazh.clicrbs.com.br/comportamento/noticia/2014/09/Criador-do-Easy-Taxi-No-inicio-fui-visto-com-muita-descrenca-4592643.html
- Pierre Veyrat (2017). 12 Exemplos da Lei de Pareto 80 20. Disponível em: https://www.heflo.com/pt-br/gerenciar-negocios/exemplos-da-lei-de-pareto-80-20/
- Development that pays (2016). 3 Awesome Minimum Viable Product. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=xPJoq_QVsY4.
- Fernanda (2016). Por que você deve levantar hipóteses para sua startup. Disponível em: https://prosainterativa.com.br/startups-de-resultados/por-que-voce-deve-levantar-hipoteses-para-sua-startup/
Agradecimento
- Geraldo Farias – Agile Coach – https://www.linkedin.com/in/geraldobf/
Excelente artigo, parabéns, vou compartilhar na empresa.
Obrigado Ranieri! Caso queira ajuda até para entender melhor sobre o Canvas, estou à disposição.
Abraços.