Como mencionei no artigo anterior,  o SAFe – Scaled Agile Framework, é baseado em princípios Lean, em Scrum, em práticas XP (Extreme Programming) e, em uma considerável experiência de campo de uma ampla comunidade mundial. Ao aprofundarmos essas bases, vamos encontrar um elemento chamado de The SAFe House of Lean  (ver figura abaixo), que é uma variação do famoso House of Lean.  No The SAFe House of Lean, veremos os pilares e valores Lean.    E também veremos que o SAFe é fortemente orientado aos princípios do Product Development Flow (Fluxo do Desenvolvimento de Produto). Esses princípios foram muito bem sintetizados  por Don Reinertsen no livro Principles of Product Development Flow. Nesse nosso post, vamos ter uma visão inicial sobre  esse núcleo do SAFe.

Os princípios do Fluxo de Desenvolvimento de Produto são baseados em 08 temas. São eles:

1 –  Take an economic view (Adote uma visão econômica)

Apoie suas decisões sobre o portfolio de produtos e sobre toda a cadeia de desenvolvimento em critérios econômicos.  Adotar critérios econômicos não é algo trivial, pois envolve variáveis como Lead Time,  Custos e Despesas do Desenvolvimento, Geração Valor e também Risco.  O próprio Don Reinertsen reforça que se você tiver que quantificar uma única coisa, quantifique o Custo do Delay (CoD – Cost of Delay). Ou em outra palavras: Qual o custo ou prejuízo de sua organização demorar ou atrasar determinado produto ao mercado?

2 –  Actively manage queues  (Gestão ativa das filas)

Desenvolver, em diferentes níveis organizacionais, uma gestão inteligente sobre as filas de demandas é algo crucial para o sucesso de um portfolio de produtos.  Para isso, para cultivar uma forma inteligente de gerir as filas, é importante entender questões como o efeito que a Lei de Litle  exerce nas demandas, os efeitos de um processamento rápido sobre o tempo de espera e principalmente e ter o controle do tempo de espera através da gestão do tamanho das filas.

3 –  Understand and exploit variability (Entenda e explore a variabilidade)

Admite-se que não é possível gerar valor sem adicionar variabilidade no sistema de trabalho. Isso faz com que assumir riscos seja a base central para criação de valor. Dessa forma,  o SAFe reforça a necessidade de fazer Spikes. O termo spike é uma prática muito forte na XP (Extreme Programming) e ajuda a explorar variabilidade desejada e também ajuda evitar a variabilidade não desejada. Podemos dizer que encontrar esse equilíbrio entre variabilidade desejada e não desejada, é a essência de toda a busca ágil.

4 –  Reduce batch sizes  (Reduza o tamanho dos lotes)

Partindo do princípio econômico que grandes lotes de trabalho aumentam a variabilidade,  retarda o feedback e faz com  que o cycletime (tempo de ciclo) do processo seja igualmente grande, trabalhar com lotes menores, ajuda a reduzir o cycletime,  promove feedback mais rápido e, diminui a variabilidade e o risco do desenvolvimento. Lotes menores também otimizam a forma, o tempo e o custo de handoff (transporte entre etapas) dentro do sistema de geração de valor.

5 –  Apply WIP constraints  (Aplique restrições WIP – Work-in-process)

Gerenciar o WIP é parte central do Kanban. Na verdade, limitar o WIP é uma forma de aplicação do conceito Lean chamado de  Heijunka,  que em uma tradução livre, significa algo mais ou menos como: “Nivelar a carga de trabalho”.  O SAFe, por ser fortemente baseado em Lean, também estimula uma aplicação de Kanban em nível de Portfolio. Dessa forma, reconhece-se que restringir a capacidade de trabalho através uma política de WIP, aumenta a capacidade de entrega e torna o sistema mais fluído e, curiosamente, um pouco mais previsível.

6 –  Control flow under uncertainty: cadence and synchronization (Controle do fluxo sob a incerteza: Cadência e Sincronização)

Cadência torna os eventos imprevisíveis em eventos previsíveis. Já sincronização, estimula que múltiplos eventos aconteçam no mesmo momento. Entender essas diferenças básicas é importante para combiná-las de maneira efetiva em ambiente de escala. Para controlar o fluxo, mesmo sob a incerta, o SAFe  faz a distribuição dessa combinação nos níveis de  Portfolio, Programa e Time.  Essa distribuição  faz com que a organização tenha sensíveis ganhos de planejamento e aprendizado sobre os desvios gerados ao longo do caminho.

7 –  Get feedback as fast as possible (Obtenha feedback o mais rápido possível)

Aumentar a feedbackabilidade, não é algo novo para comunidade ágil. E para o SAFe, isso é o mantra vital a ser propagado em todos os níveis organizacionais. Isso é importante pois loops de feedback locais são inerentemente mais rápidos que os loops de feedbacks globais. Contudo, os loops globais se beneficiam do aprendizado obtido nos locais.  Esse efeito faz com o que a organização gerencie melhor o risco, corrija o rumo dos investimentos e cultive de maneira assertiva a inovação em toda a sua cadeia.

8 –  Decentralize control  –  (Descentralize o controle e as decisões)

A descentralização do controle e das decisões é o elemento crítico para cultivar times auto-organizados e, principalmente, criar um ambiente com maior fluidez na hora de responder às variações dos mercados, dos produtos e do próprio trabalho criativo. O SAFe reconhece que esse é um assunto crítico para que uma empresa possa de fato obter benefícios ágeis para o seu negócio. Dessa forma, as ideias do SAFe estimulam um pragmático reconhecimento de quais decisões, de efeito local, podem e precisam ser tomadas de maneira distribuída e quais as decisões, de efeito global, que ainda precisam ser mantidas de forma centralizada na organização.

Bom, essa foi a síntese sobre como o SAFe incorpora os  Princípios do Product Development Flow,  que é uma importante base para se conseguir escalar uma adoção ágil. Como mencionei,  esses princípios estão distribuídos por todos os detalhes do Scaled Agile Framework e norteiam todo o ciclo de desenvolvimento de produtos, desde o nível de portfolio, até o nível do dia-a-dia do time.  Obviamente, que o SAFe empacota esses princípios para que os mesmos sejam vividos de maneira plena, desde pessoas com papéis de C-level,  até todos os envolvidos desde da etapa da identificação de uma oportunidade de negócio, até a implementação da solução para aquela oportunidade. Caso queria mais informações sobre o SAFe, você pode fazer parte do grupo SAFeBrazil (grupo de discussões no facebook) e acompanhar discussões ou contribuir com novas dúvidas sobre o assunto. Até o próximo artigo!

Este post tem um comentário

  1. Danilo

    Opa Manuel, o link para lei de little está correto? Acho que está para o endereço errado. Abraços.

Deixe um comentário