Em tempos de crise no abastecimento dos postos de combustível, falta de produtos nos supermercados e até mesmo a recente corrida da população para se vacinar contra a epidemia de doenças como a febre amarela, é hora de falar de um fenômeno chamado “tragédia dos comuns“.

Segundo a Wikipédia, “tragédia dos comuns é uma situação em que indivíduos agindo de forma independente e racionalmente de acordo com seus próprios interesses se comportam em contrariedade aos melhores interesses de uma comunidade, esgotando algum recurso comum“.

Em outras palavras, isso ocorre quando passamos por cima do bem comum em detrimento do nosso bem-estar, simplesmente desprezando o fato de que outras pessoas precisam ou dependem mais daquele recurso do que nós mesmos.

Quantas pessoas “furaram” a fila dos postos de vacinação, saindo de suas casas em áreas consideradas fora de risco, para tomar a vacina da febre amarela esgotando a dose que poderia salvar a vida de alguém que mora em uma área de risco?

Quantos de nós que mal usamos o carro corremos até o posto de gasolina para abastecer o tanque com medo de ficar sem combustível durante a última crise de abastecimento?

Será que iremos consumir todo o leite, ovos e demais produtos estocados em excesso nos últimos dias?

Enfim, não faltam exemplos da “tragédia” na nossa sociedade, mas vou me esquivar da difícil tarefa de explicar o comportamento humano por trás deste tipo de atitude um tanto quanto irracional e egoísta para fazer um paralelo desta situação no contexto das nossas organizações.

Quando fui gerente de projetos por algumas vezes senti a necessidade de “blindar” algum recurso: salas de reunião, ambiente de infraestrutura, entre outros.

Em outros momentos eu também não cedi as pressões para compartilhar profissionais especialistas com outros times, por mais que eu soubesse que eu poderia fazer isso.

Lembro de uma situação em que publicamos um pacote no ambiente de homologação, mas o usuário reprogramou a sua validação para o mês seguinte e eu, com receio de perder o ambiente para uma outra demanda, sustentei até o fim, ou seja, até o reinício da homologação, a ideia de que o ambiente não poderia ser liberado para nenhum outro projeto.

Meu receio em compartilhar ou abrir mão destes “recursos” estava ligado ao fato de perder a vez na fila, não atingir as datas já comprometidas e, principalmente, porque eu tinha a absoluta certeza de que se eu abrisse mão daquele tal ambiente de homologação, por exemplo, ninguém faria o mesmo por mim quando eu precisasse dele mais tarde.

Podemos dizer que a “tragédia” fazia parte da cultura da organização e eu me via mais como uma vítima do sistema do que um culpado diante de tal situação.

Enquanto eu digo “blindar” para reforçar minha posição de vítima, no fundo eu estava esgotando aquele “recurso” para o restante da organização fazendo de mim mais um culpado, cujas provas são muito evidentes.

Pois é, meus amigos. Eu aqui criticando o comportamento da nossa sociedade, mas algumas vezes fiz o mesmo no mundo corporativo. E devo ser honesto com vocês e dizer que na ocasião, mesmo muito incomodado, eu me conformei em ser a vítima.

É claro que nem sempre eu fui o “vilão”, mas para este post eu resolvi explorar o lado sombrio da força.

No livro “Como mudar o mundo” de Jurgen Appelo, o autor traz o 5I’s como uma forma de combatermos a “tragédia dos comuns” dentro da nossa organização:

Identidade do grupo. As pessoas gostam de fazer parte de algo maior, de estarmos associados a uma marca legal porque desta forma também somos vistos como mais legais.

Incentive o bom comportamento, especialmente quando alguém toma uma decisão difícil privilegiando o bem comum.

Informe o quanto e quando você vai precisar daquele recurso, seja transparente.

Institucionalize políticas para que o bem comum prevaleça.

Infraestrutura que facilita e ajude a irradiar a comunicação, reflita para encontrar as barreiras a serem removidas.

Mas e você? Já se questionou se esta mudança não pode começar por você? Que tal ser um agente de mudança e um exemplo para os demais? Não é melhor tentar esta mudança? Ou será que você também já se conformou com o papel de vítima da tragédia?

Até a próxima 😉

Diego Bonilha

Sou instrutor oficial da ICAgile e SPC (SAFe Practice Consultant). Tenho experiência como desenvolvedor, líder, gerente de projetos e Scrum Master. Agilidade em escala e novos modelos de gestão em um mundo em constante evolução são assuntos que me fascinam e por isso busco. apoiar a mudança organizacional das grandes empresas em diferentes níveis

Este post tem 2 comentários

  1. AZIEL FERREIRA

    A greve dos caminhoneiros levou a isso,os postos ficaram sem gasolina atingiu toda economia, é necessário o governo buscar a tecnologia para se proteger de grupos que pode parar o país.

  2. AZIEL FERREIRA

    GESTÃO DE RISCOS PODE SER A FORMA MAIS ADEQUADA PARA TRATAR DISSO.

Deixe um comentário