Uma resposta simples para esta pergunta seria “Sim, Management 3.0 é o título de um livro escrito por Jurgen Appelo, um holandês que não gosta de futebol. Tal livro tem sido elogiado na comunidade internacional de Agile e de Management por pessoas como: Jim Highsmith, Scott Duncan, Lisa Crispin, Israel Gat, Ed Yourdon, Robert (Bob) Martin, Diana Larsen, Esther Derby, e outros”. Mas isso seria realmente uma definição simplista.

Para entender o que é a Gestão 3.0 precisaremos antes avaliar o que o autor considera como as duas primeiras “versões” da gestão.

Gestão 1.0: Focada em hierarquias, esta versão da gestão ficou mundialmente conhecida através do modelo comando-e-controle. Poder na mão de poucos em uma estrutura de decisões top-down. Aqui foi criado aquele conhecido jargão “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. Podemos dizer, sem possibilidade de erro, que ainda é o modelo de gestão mais utilizado “na prática”.

Gestão 2.0: Focada em técnicas, esta versão procura “corrigir” alguns dos “problemas” da primeira versão de gestão…mas mantendo a mesma estrutura top-down, o que – não surpreendentemente – resolve muito pouco. Poderíamos dizer que é uma Gestão 1.0 “turbinada” por Balanced Scorecards, Six Sigma, TQM e outros add-ons.

Eu ainda me arriscaria a inserir nessa lista uma Gestão 1.love. Nesse modelo estariam inseridos todos aqueles livros que pedem para lideres abrirem seu coração, dar as mãos aos colegas, mentalizarem palavras positivas pois assim tudo de bom acontecerá. Esses livros também dizem que você agora (?) é um líder, e não mais um gerente.

A Gestão 3.0, ou Gestão Ágil.

Focada na complexidade, esta gestão encara as organizações como redes, e não como hierarquias; e nessas redes as pessoas e seus relacionamentos devem estar no foco da gestão, mais do que os departamentos e seus lucros.

Para conseguir isso, o modelo da Gestão 3.0 sugere que  a gestão trabalhe com seis visões. Não à toa, essas visões são representadas por um modelo um pouco diferente dos conhecidos círculos, flexas e retângulos de desenhos organizacionais; algo bem mais próximo do que muitas das organizações se parecem: monstros.

Energizar pessoas: pessoas são a parte mais importante de uma empresa, certo? Gerentes devem portanto fazer o que for possível para mantê-las ativas, criativas e motivadas.

Empoderar times: times devem auto-organizar, mas para isso precisam empoderação, autorização e confiança da gestão.

Alinhar restrições: auto-organização pode não funcionar, para diminuir esta possibilidade dê às pessoas um propósito claro e metas compartilhadas.

Desenvolver competências: times não conseguirão atingir as metas caso alguns de seus membros não forem suficientemente capazes. Gerentes devem contribuir para o desenvolvimento de competências.

Crescer a estrutura: muitos times trabalham dentro de um contexto organizacional complexo, portanto é importante considerar estruturas que promovam a comunicação.

Melhorar tudo: pessoas, times, e organizações precisamos melhorar continuamente para evitar falhas sempre que possível.

Portanto, sendo auto-organizados, times de desenvolvimento de software precisam de uma gestão que os auxilie, e não de uma que os obstrua. Gerentes organizacionais precisam absorver as competências necessárias para fazer este trabalho.

Sei que isso pode parecer ousado para muitos, mas se Stephen Hawking estiver certo com a citação de que o século 21 é o “século da complexidade”, todos nós precisaremos adquirir novas habilidades para trabalhar de forma adequada aos sistemas complexos, e a gestão não será exceção.

ScrumMasters e a Gestão 3.0

ScrumMasters devem ser verdadeiros agentes de mudança, ajudando a organização a alcançar melhores resultados através do Scrum. É o que deveriam estar fazendo.

Em grande parte ScrumMasters se limitam a cuidar de impedimentos, post-its e reuniões por se sentirem impotentes ao tentar permear as camadas de gestão organizacional. Eles sabem que grande parte das melhorias que precisam acontecer dependem da gestão que, em sua maioria, funciona com uma mentalidade 1.0, com uma visão hierárquica e focada no comando-e-controle.

A pesquisa anual The State of Agile (VersionOne) citou em seu último relatório que os principais obstáculos para uma boa adoção de Agile nas empresas são: cultura organizacional, resistência a mudança, desenvolvimento de competências e apoio da gestão. ScrumMasters devem ajudar a gestão organizacional a entender o que é ser ágil e os benefícios em volta disso. Eles devem ajudá-los a se mover para a Gestão 3.0 assim como ajudaram times a auto-organizar.

Mais sobre Gestão 3.0

Publicarei frequentemente sobre a Gestão 3.0 aqui no blog da AdaptWorks. Por ora, seguem alguns links interessantes sobre o assunto:

Este post tem 7 comentários

  1. André Faria Gomes

    O curso foi sensacional, e a abordagem do Jurgen é muito interessante para transformar o cenário da gestão atual em algo que faz muito sentido.

  2. Mauricio

    Penso muito nesse algo que não é o 1.0 e o 2.0 e o 3.0 toca bem nos pontos que reflito bastante, principalmente no empowerment. Indica quais leituras sobre o tema? algum livro além das referências que cita?

  3. Alexandre Magno

    Olá Maurício, obrigado pelo comentário! Além dos livros que citei, e focando na visão de Empowerment, recomendo: “Leading Teams – Setting the stage for great performances” de J. Richard Hackman e o clássico “Peopleware” do Tom DeMarco.

  4. Daniel Bazilio

    Um post de 2012 e muito dentro da realidade, top.
    Hoje, praticamente 6 anos depois ainda nós deparamos com muito da Gestão 1.0, porém o avanço da tecnologia acabou puxando o mercado para o ágil e estamos mais presentes nesta realidade.
    Metodologia tradicional não reflete mais o mercado, agora tem que ser ágil.

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